1. se quiseres ouvir cantar
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SE QUISERES OUVIR CANTAR
No dia 21 de Fevereiro de 1972, Tozé Brito acordou cedo. Pela
janela do quarto da casa dos pais, em Cascais, já se percebia
o nascer do dia. Estava muito tranquilo. Em frente ao espe‑
lho da casa de banho, arriscou logo um sonoro teste de voz.
Faltavam algumas horas para a sua primeira grande noite.
Ao início da tarde, teria de estar no Teatro São Luiz, em Lisboa. Era
um dos finalistas do Festival RTP da Canção, a sua estreia.
«O meu receio era cantar com orquestra. Aquele vendaval de
som que iria cair sobre as minhas costas fazia ‑me tremer as pernas
no palco!»
Até à semana dos ensaios oficiais, Tozé só tinha cantado com os
quatro instrumentos da sua banda musical. Ou sozinho à viola.
«O público na plateia, a família, os milhões em casa, pela tele‑
visão, e a orquestra de meia centena de músicos atrás das costas
deixavam ‑me apreensivo. Não queria dar barraca.»
Almoçou ainda em casa dos pais e seguiu para Lisboa. Chegou
ao São Luiz para o ensaio geral, a ser gravado pela RTP. A gravação
serviria como rede de segurança caso algo corresse mal, à noite,
durante a transmissão em directo. A estação pública queria evitar
pôr no ecrã o histórico cartaz «Pedimos desculpa por esta
interrupção…».
Acompanharam ‑no ao seu camarim. O país inteiro lá fora,
à espera.
«Vesti o meu fatinho todo janota, que mandei fazer de propó‑
sito, claro… em veludo castanho, uma camisa branca e um laço tam‑
bém castanho.»
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