António Rebelo de Sousa
explicativas que Rebelo de Sousa escrutina para avaliar a sua coerên-
cia e as suas virtualidades.
As memórias avulsas são utilizadas para efeitos de localização e
fundamentação histórica e são de tal maneira incisivas que adquirem
um valor substantivo. É o caso das dívidas de guerra, do abandono do
padrão -ouro e do papel do presidente Hoover.
Ainda sobre Hudson, António Rebelo de Sousa interroga -se
sobre a existência de uma concepção imperial na ajuda externa. A ideia
de que o aparelho de Estado americano se limitou a reconduzir a sua
estratégia de ajuda ao desenvolvimento ao reforço de um poder impe-
rial parece -lhe redutora, como simplificadora se lhe afigura a ideia de
Hudson sobre imperialismo monetário.
O autor procura uma «terceira via», a da reforma do sistema capi-
talista, numa acepção socializante que não ponha em causa a econo-
mia social de mercado e a democracia política.
Esta orientação introduz o capítulo II, que desenvolve uma pers-
pectiva liberal reformadora em que o contexto histórico é o da crise
financeira de 2008 -2009 e o autor de referência é Timothy Geithner.
Há pormenores de natureza histórico -documental que anteci-
pam acontecimentos. Geithner teria informado Obama de que se
estava perante um sistema financeiro fortemente subcapitalizado,
o que implicava a injecção de, pelo menos, 684 biliões de dólares. Era
uma preocupação antiga, pois, já em 2004, afirmara que «grande parte
das instituições financeiras não adoptavam uma gestão cautelosa».
António Rebelo de Sousa tira conclusões das teorias de Geithner.
Sustenta que: existe um «paradoxo» na abordagem neoliberal da
actuação a empreender em relação às instituições financeiras, em situa-
ção de crise grave, que consiste em privilegiar a ideia de que faz sen-
tido deixar os bancos irem à falência, absorvendo os credores os
prejuízos, bem como, em larga medida, os próprios clientes.
Num plano sistémico, conclui que, sem um planeamento estra-
tégico, não será possível solucionar problemas tão diversos como, por
exemplo, os níveis de pobreza, a questão central do aquecimento glo-
bal, as desigualdades socioeconómicas e os problemas da educação e
da saúde.
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