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   
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
Heróis Esquecidos da História de Portugal.
Histórias surpreendentes de guerreiros e
soldados desde a Reconquista Cristã até à actualidade

Fernando Rita
© Autor e Guerra e Paz, Editores, Lda., 2024
Reservados todos os direitos
 
Maria José Batista

Joana Baudouin
  
Ilídio J.B. Vasco

D. Dias
    
  : Tomada de Santarém aos mouros de surpresa por D. Afonso Henriques (sécu-
lo), AHM;   : Militar português em operações nos sapais da Guiné (1968),
EP/JEx;   : Fotografia que ilustra o patrulhamento de tropas portuguesas
na República Centro-Africana durante uma das suas missões de paz (século),EP/JEx;  
  : Tomada de Silves, em 1189, por D. Sancho I (c. 1925), azulejo do MML; Campanhas de
Pacificação Portuguesas em África [Chaimite, Moçambique, em 1895] (c. 1925), azulejo do MML.
  
Arquivo Histórico Militar (AHM); Biblioteca Nacional Digital (MND),
Acervo Fotográfico do Jornal do Exército (JEx) e do Museu Militar de Lisboa (MML).
  
Arquivo pessoal do autor
: 978-989-576-044-2
 : 528229/24
1.ª : Março de 2024
GUERRA E PAZ, EDITORES, LDA.
R. Conde de Redondo, 8–5.º Esq.
1150 -105 Lisboa
Tel.: 213 144 488
www.guerraepaz.pt
HEIS
ESQUECIDOS
DA HISTÓRIA DE
PORTUGAL
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 - · 
HEIS
ESQUECIDOS
DA HISTÓRIA DE
PORTUGAL
Histórias surpreendentes de guerreiros
e soldados desde a Reconquista Cristã
até à actualidade
FERNANDO RITA
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

Dedicatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Prólogo
O combatente anónimo na história militar de Portugal . . . . 13
Parte I
Guerreiros medievais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
(1096 -1495 d. C.: 399 anos de memórias militares)
O guerreiro de Vatalandi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
(O Cavaleiro Soeiro Fromarigues; Um adail da reconquista cristã
em luta contra mouros, no final do século  e início do século )
O monge templário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
(O frade guerreiro Pedro Arnaldes; mestre templário português
da fundação da nacionalidade, em combate na tomada de Santarém
no século )
O Miles Vilani de Santarém . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
(O cavaleiro-vilão João Nunes do Ferragial; um mercador de Santarém
do século  na reconquista do Algarve)
O besteiro de Atoleiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
(O besteiro Lourenço Dias; um morador de Montemor -o -Novo
na guerra da independência do século )
O espingardeiro do Toro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
(O espingardeiro Gonçalo Anes; um carpinteiro de Santarém
em lutas pelos Reinos de Leão e Castela no século )
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Heróis esqueCidos da História de Portugal · Fernando Rita
Parte II
Combatentes da ÉpoCa moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
(1495-1820 d. C.: 325 anos de peripécias militares)
O desaparecido de Alcácer Quibir . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
(D. João de Portugal de Vale de Figueira, Santarém;
um fidalgo perdido nas areias de Alcácer Quibir no século )
Os combatentes dos murtais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
(O general André de Albuquerque Ribafria e o soldado Fernão Vaz
lavrador de Olivença; em combate contra os espanhóis
na batalha dasLinhas de Elvas no século )
O mártir de Rodão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
(Um soldado granadeiro de quem não sabemos o nome;
em combate na Guerra Fantástica ou do Mirandum no século )
O guerrilheiro de Pé de Cão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
(O guerrilheiro Joaquim Silva; em fuga aos franceses
durante o período da 3.ª Invasão, no inicío do século )
Parte III
soldados da idade Contemporânea . . . . . . . . . . . . . . . .85
(1820 -actualidade:204anosde episódios militares)
O Malhado e o Corcunda daGuerra Civil . . . . . . . . . . . . 87
(Dois combatentes na Guerra Civil: o alferes Luiz Furtado
[Malhado/Liberal] e o tenente Luiz Larochejaquelein
[Corcunda/Miguelista] que aqui lutaram e perderam a vida em 1832)
O decapitado de Cová . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
(O capitão Eduardo Inácio da Câmara que perdeu a vida da pior forma,
nas campanhas ultramarinas de pacificação do final do século ,
em Timor)
O redimido de Coloane . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .100
(O soldado José Maria que se redimiu com a morte, nas campanhas
ultramarinas de pacificação do início do século , em Macau)
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
O comandante de Cuangar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .105
(O tenente Joaquim Durão em combate em Angola,
num pequeno forte isolado na região de Baixo -Cubango, no ano de 1914)
Os expedicionários deNhamacurra . . . . . . . . . . . . . . . . 111
(O soldado Manoel Pedro e o soldado Armindo Coelho,
na defesa de Quelimane em Moçambique, no ano de 1917)
O morto de Chapigny . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
(O encontro com a morte do 2.º sargento Avelino da Silva,
nas trincheiras da Flandres em 1918, depois de ter sobrevivido
às savanas de Môngua)
Os últimos resistentes de Diu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .125
(Os oito marinheiros da lancha de fiscalização NRP Vega, em combate
na Índia, até se perderem no mar, no ano de 1961)
O soldado da Operação Quissonde . . . . . . . . . . . . . . . .132
(O soldado Celestino do Carmo Pereira,
em combate até à morte em Angola, entre 1966 e 1968)
O combatente do Sedengal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137
(O alferes miliciano Carlos da Silva Pacheco,
em combate até à morte na Guiné -Bissau, entre 1967 e 1968)
O furriel da estrada maldita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .142
(O furriel miliciano António José Carvalho da Silva,
em combate até à morte em Moçambique, entre 1972 e 1974)
Epílogo
O soldado anónimo das missões de paz . . . . . . . . . . . . . .149
(Uma descrição generalista das Operações de Paz e Humanitárias,
da ONU, NATO, UE, CTM portuguesa: asseguradas
por FND [Forças Nacionais Destacadas] e END [Elementos Nacionais
Destacados] nos séculos  e )
Fontes e bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .157
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 

À memória de todos os Guerreiros, Combatentes e
Soldados da História Militar de Portugal…
«A incompreensão do presente;
Nasce fatalmente da ignorância do passado.»
Marc Bloch
Não te preocupes com aquilo que os outros pensam;
preserva sim, os amigos e a família;
Viaja muito e assume a tua curiosidade de forma
versátil e ecléctica;
No fundo não adies nada, porque hoje é aquele dia!…
Não devemos perder tempo;
Mas sim fazer o tempo;
Porque a vida é tempo.
Reflexões do autor…
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:         

O combatente anónimo na história militar de Portugal
«Há monumentos ao soldado desconhecido, mas não
há um só aos heróis a que não calhou poderem sê -lo.»
Vergílio Ferreira
A
História militar é um domínio da História que aborda as diferen-
tes memórias, peripécias e acontecimentos militares que se desen-
rolaram ao longo de diferentes períodos da evolução do percurso
da humanidade, protagonizados por vários exércitos ou grupos armados
com origem em diferentes civilizações e nações. A mesma não se limita
somente ao estudo das guerras, campanhas, batalhas e combates, interessa-
-se igualmente pela organização das forças e aparelhos militares em con-
fronto nesses eventos. O seu processo de análise compreende ainda a
evolução do armamento e equipamento, assim como das tácticas e estraté-
gias militares empregadas em vários conflitos à escala mundial onde dife-
rentes forças militares se digladiaram entre si, ao longo de séculos. Neste
contexto, o trinómio homem -arma -manobra esteve e estará sempre presente
no nosso quotidiano bélico, representando as três principais vertentes de
pesquisa em história militar (a base orgânica, técnica ou tecnológica e táctica).
Mas é dentro da constituição e composição dos exércitos que foram sendo
empregados na duradoura conflitualidade secular que se destaca o papel
do combatente, desde o comandante ao soldado anónimo da cadeia hierár-
quica, todos importantes para o decurso da guerra!
Desde a Reconquista Cristã até à Guerra do Ultramar, ao longo de dife-
rentes períodos da nossa longa e opulenta História Militar, destacaram -se
destemidos guerreiros medievais, arrojados combatentes da Época Moderna
e valentes soldados na Idade Contemporânea. No fundo, homens em armas
com histórias surpreendentes que serão para sempre recordados!
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Heróis esqueCidos da História de Portugal · Fernando Rita

Para isso, muito contribuiu o seu estatuto social, que influenciava a
função de comando que ocupavam, e o acesso mais facilitado à formação e
preparação mais adequada para a guerra.
Porém, surgia, no lado oposto, um maior número de homens ignora-
dos e desconhecidos, de origem quase sempre humilde, que se não tivessem
existido e tomado parte nessa conflitualidade nunca teriam permitido o
sucesso e as honrarias dos primeiros.
Com isto em mente, organizamos este livro em três partes: uma pri-
meira, dedicada aos guerreiros medievais que foram esquecidos pela nossa
História Militar; uma segunda, que aborda o papel dos combatentes da
Época Moderna que foram pouco reconhecidos; e uma última parte, que
ilustra o desempenho de soldados insuficientemente recordados pelas suas
acções em combate na Idade Contemporânea.
Entre os guerreiros medievais, trazemos então aqui a história de um
homem que viveu o tempo da Reconquista Cristã, não totalmente incóg-
nito, pelo facto de ser o senhor de Grijó e adail do conde D.Henrique, pai
do nosso primeiro rei. Sendo um elemento da média aristocracia portuca-
lense, o cavaleiro Soeiro Fromarigues será reconhecido por alguns estudio-
sos deste período, mas não deixa de ser um combatente pouco conhecido,
para não dizer totalmente desconhecido para a maioria dos portugueses.
Já no período da Fundação do Reino, onde se destacaram figuras essenciais
da história nacional, como o nosso primeiro rei D.Afonso Henriques e o
grão -mestre Templário Gualdim Pais, contamos, no entanto, aqui o papel
do esquecido, mas igualmente mestre da ordem dos templários Pedro
Arnaldes, na tomada de Santarém em 1147.
Já no período de reconquista do Sul, materializada com o domínio do
Algarve, onde se destacaria o então grão -mestre da Ordem de Santiago,
D.Paio Peres Correia, damos a conhecer a história do cavaleiro ‑vilão João
Nunes do Ferragial, um guerreiro do povo da vila de Santarém, mercador
desconhecido que participou activamente nessa campanha militar, inte-
grado nas forças de cavalaria da hoste então mobilizada para Sul, nesse
período. No tempo da Guerra da Independência, época pautada pela acção
heróica do Condestável Nuno Alvares Pereira, trouxemos aqui também um
nome desconhecido. Neste caso um homem do povo, um artesão ou mes-
teiral de nome Lourenço Dias, da vila de Montemor -o -Novo, que foi um
dos cem besteiros que tiveram um papel fulcral no apoio aos combates desta
batalha que decorreu nos terrenos pantanosos de Atoleiros.
Por último, no período da expansão portuguesa do século , princi-
palmente para o Norte de África, surge como figura de proa dessa época o
rei D.Afonso V, cognominado na altura como o Africano. Mas seria na
Batalha do Toro, por terras de Leão e Castela, que um espingardeiro
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:         
morador na vila de Santarém, Gonçalo Anes, mestre carpinteiro, se iria des-
tacar em combate com a sua simples arma de projecção de fogo, a famosa
colubrina do século .
Por sua vez, entre os combatentes pouco reconhecidos que actuaram
na Época Moderna, trazemos aqui a história de um fidalgo do século ,
D.João de Portugal, morador no lugar de Vale de Figueira, no concelho de
Santarém. Este homem acabou por ter o mesmo de destino que o seu conhe-
cido rei, tendo sido dado como desaparecido ou morto na batalha de Alcácer
Quibir. D.Sebastião, que ficaria para a história com o cognome de o Desejado
por ser um herdeiro muito esperado pela dinastia de Avis, iria perdurar
ainda para a história colectiva como o Encoberto ou o Adormecido, devido à
lenda que aludia ao seu esperado regresso numa manhã de nevoeiro para
salvar o reino do domínio espanhol, após ter igualmente desaparecido na
mesma batalha.
Já na Guerra da Restauração, destacam -se mais uma vez nomes de com-
batentes oriundos da nobreza, sobejamente conhecidos à época, como
foram os casos do 1.º marquês de Marialva (D. António Luís de Menezes)
e do 1.º conde de Vila Flor (D. Sancho Manuel de Vilhena), ambos titula-
dos pelo rei em 1661 pelos feitos em combate neste conflito. Por esta razão,
contamos aqui a história de um soldado de infantaria, voluntário em todos
os momentos decisivos da Guerra da Restauração, que, no sentido total-
mente oposto, acabou por ser ignorado pela história. É o caso do soldado
Fernão Vaz, um lavrador de Olivença que ao perder a sua fazenda, quando
os espanhóis tomaram a vila, se ofereceu desta forma para servir como mili-
ciano do exército português no ano de 1659, depois de já ter participado nos
cercos de Olivença e Badajoz. A este último combatente não podíamos dei-
xar de juntar igualmente a trajectória de alguém mais reconhecido pela
nossa história militar. De origens mais favorecidas, acabou por ficar para os
anais da Guerra da Restauração como um dos seus principais heróis.
Destacou -se ali pela intrépida acção em combate que manifestou na bata-
lha das Linhas de Elvas, onde foi o seu principal decisor e eterno mártir.
Estamos a falar do general André de Albuquerque Ribafria, que ali perdeu
a vida. Para memória futura, foi este combatente dos murtais, honrosamente
sepultado em solo elvense, no Convento de São Francisco, nas imediações
da vila, junto ao famoso aqueduto da Amoreira. Durante a Guerra Fantástica
contamos ainda a história de um soldado granadeiro desconhecido de quem
não sabemos sequer o nome, que chamamos aqui de mártir de Ródão, pelo
seu papel heróico no Combate de Ródão no ano de 1762. Tudo isto num
período em que o alemão, conde de Lippe, era o grande senhor por trás
desta guerra ao mesmo tempo que liderava uma profunda reorganização
do Exército português.
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Heróis esqueCidos da História de Portugal · Fernando Rita

Mais tarde, no início do século , seriam nomes como os dos ingle-
ses duque de Wellington e do marechal Beresford a destacarem -se como
figuras de primeira linha, agora na Guerra Peninsular, principalmente na
Terceira Invasão Francesa entre 1810 e 1811. Mas para o sucesso de Wellington
como comandante em chefe do Exército Aliado, e de Beresford agora como
reorganizador e comandante do Exército português, muito contribuíram
os homens de 2.ª linha (milícias) e da 3.ª linha (ordenanças), recrutados
junto dos lugares por onde passava a invasão. Será neste contexto e enqua-
dramento que alguns homens do povo se tornariam verdadeiros heróis len-
dários, mas que seriam com o tempo alvo de esquecimento pela memória
colectiva. Foi o caso do guerrilheiro Joaquim Silva, que actuou em várias
acções de subversão contra as tropas francesas, na região norte da comarca
de Santarém, durante a Terceira Invasão Francesa. Este guerrilheiro do lugar
de Pé de Cão percorreu montes, vales, rios, ribeiras, campos e matas numa
luta incansável e tantas vezes vitoriosa contra o invasor cruel da sua terra,
conseguindo num derradeiro acto de ousadia e contra todas as previdên-
cias fugir de uma morte certa!
Por sua vez, entre combatentes esquecidos da Idade Contemporânea,
trazemos aqui a história de dois oficiais da Guerra Civil Portuguesa, um libe-
ral e outro miguelista. Cada um destes soldados, actuantes do lado oposto
da contenda, foram verdadeiros modelos de audácia em combate, dignos
de grande louvor e destaque, mas esquecidos ou ignorados quase na totali-
dade pela nossa história militar, naquele que foi o maior conflito fratricida
da nossa história nacional. São eles o alferes Luiz Furtado (Malhado/
/Liberal) e o tenente Luiz Larochejaquelein (Corcunda/Miguelista).
Esta escolha deveu -se ao facto de, na altura, se invocarem apenas os
nomes de alguns dos principais comandantes, quer miguelistas, quer libe-
rais. Generais como Álvaro Coutinho e Póvoas e José António Azevedo
Lemos do lado miguelista, e da facção liberal, nomes como o duque de
Saldanha, o duque da Terceira e o marquês de Sá da Bandeira não ficaram
todos eles esquecidos, particularmente os da facção vencedora, porque liga-
ram o seu nome de forma indelével à história nacional, por conta de terem
combatido desse lado do conflito.
Durante as campanhas ultramarinas de pacificação do final do
século e início do século  surgiram nomes como o do Mártir do Niassa,
o tenente Eduardo Valadim, alvo de uma gigantesca vaga de propaganda
patriótica nacional, ao ser degolado num ataque indígena na região do
Niassa no ano de 1890, em Moçambique. Já no século , no outro extremo
de África, destacar -se -ia o futuro general João de Almeida, que ficou para a
história como o Herói dos Dembos no ano de 1907, situado no território
angolano.
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:         
Foi neste enquadramento que não esquecemos aqui o papel de dois
soldados desconhecidos, o caso do decapitado de Cová, na pessoa do capi
tão Eduardo Inácio da Câmara, com um papel determinante nas campa-
nhas ultramarinas de pacificação de Timor do final do século  e que
acabaria da pior forma para ele, no ano de 1895! A ele juntamos neste tipo
de missões, mas agora no início do século , o nome do soldado José Maria,
que seria destacado na imprensa de Macau e nacional, no ano de 1910, como
um dos intrépidos defensores de Coloane, pagando com a sua própria vida
a forma como se empenhou nas violentas lutas que se travaram na época,
contra as acções dos piratas nessa região.
Num dos teatros de guerra africano da Primeira Guerra Mundial,
poderíamos reviver aqui um nome muito presente na toponímia nacio-
nal e mesmo em Angola, antes da independência, como foi o caso do vito-
rioso general Pereira d’Eça. Mas dentro dos objectivos que pretendemos
alcançar com este livro, optamos por relembrar o papel do sacrificado
comandante do Cuangar, num remoto forte português, na linha de fron-
teira do Baixo -Cubango, o tenente Joaquim Durão, que esteve em opera-
ções nesta região no ano de 1914. Já em Moçambique, destacamos as acções
dos expedicionários de Nhamacurra, o soldado Manoel Pedro e o soldado
Armindo Coelho, na defesa e protecção extremamente difícil da vila de
Quelimane na província da Zambézia contra o inimigo alemão, durante
a campanha de Moçambique, no ano de 1917. Teatro de operações que nos
traria uma das maiores figuras da nossa história militar do primeiro quar-
tel do século , o tenente Viriato Lacerda. Ficaria assim conhecido do
público em geral pelo combate da serra de Mecula, a norte de Moçambique,
numa acção de heróica resistência e bravura, rememorada pelo próprio
inimigo alemão.
No teatro de operações da Flandres, em França, durante a Primeira
Guerra Mundial, poderíamos falar de nomes como o do abnegado e cora-
joso capitão Óscar Monteiro Torres, que participou na guerra ao serviço de
uma esquadra francesa de aviação, onde acabaria por perder a vida.
Poderíamos também relembrar a acção heróica do primeiro -tenente
Carvalho de Araújo, marinheiro intrépido, que deu a vida pela pátria no
mar durante este mesmo conflito, inscrevendo uma página perene na actua-
ção da Armada Portuguesa na Primeira Grande Guerra. Nas operações ter-
restres, não poderíamos esquecer igualmente o famoso soldado de Murça,
Aníbal Augusto Milhais, que segundo o seu comandante de batalhão valeu
«milhões», pela sua heróica acção em combate durante a batalha de La Lys,
aquando do agressivo ataque alemão. Neste livro, optamos, no entanto, por
trazer a história de um arrojado herói anónimo desta mesma guerra, como
tantos outros, sobre os quais a história deste primeiro conflito à escala
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Heróis esqueCidos da História de Portugal · Fernando Rita
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mundial não escreveu mais de que curtas linhas sobre as suas lápides.
Inscrevemos então neste estudo uma biografia de um combatente que per-
deu a sua vida nas trincheiras de Chapigny, no sector português da Flandres,
depois de ter sobrevivido às savanas de Môngua. Esse homem foi o 2.º sar
gento Avelino da Silva do Regimento de Infantaria n.º 11, que tinha as suas
origens na cidade de Setúbal.
No período da Guerra do Ultramar, com facilidade se relembram com-
batentes como o tenente -coronel Marcelino da Mata, que actuou no teatro
de operações da Guiné, oficiais como o tenente -coronel Fernando Salgueiro
Maia em Moçambique ou mesmo o major -general Jaime Neves em Angola.
No entanto, serão os nomes dos oito tripulantes da pequena lancha de fis
calização Vega, os protagonistas da nossa história, «Os últimos resistentes
de Diu» no ano de 1961, na Índia portuguesa. Apesar de o eterno coman-
dante desta lancha, o 2.º tenente Oliveira e Carmo, não ter sido totalmente
esquecido pela nossa toponímia nacional, como uma das maiores figuras
da Armada portuguesa neste período da nossa história militar, será pelos
dias de hoje, no entanto, um ilustre desconhecido da generalidade das pes-
soas, juntamente com a sua tripulação de sete homens. Por essa razão serão
aqui destacados por nós como figuras colectivas maiores da nossa história
naval da época, num teatro de operações muitas vezes esquecido pela his-
toriografia nacional.
Mas foram mais as histórias desta Guerra do Ultramar, que aqui trou-
xemos, de forma a perfilar um pequeno conjunto de homens, que repre-
sentam em parte os cerca de 800 mil combatentes, na sua quase totalidade
incógnitos ou mesmo ignorados pela nossa historiografia contemporâ-
nea. Do grupo aqui rememorado todos eles deram a sua vida ao serviço
da pátria, como foi o caso do combatente da Operação Quissonde,
o soldado Celestino Pereira que combateu em Angola entre os anos de
1966 e 1968. A ele juntamos ainda a biografia do combatente do Sedengal,
papel assumido nas matas e pântanos da Guiné pelo alferes miliciano
Carlos Pacheco, que actuou nesse teatro de operações entre os anos de 1967
e 1968. A este combatente seguiu -se uns anos mais tarde a história do fur-
riel da estrada maldita, numa homenagem ao furriel miliciano António
Carvalho da Silva, que actuou por sua vez em operações nesta guerra,
no Norte de Moçambique, entre os anos de 1972 e 1974! Finalizamos o
livro retratando o novo espectro de missões das nossas forças armadas, que
abriram um ciclo de operações diferente desde a última década do
século até aos dias de hoje. Participaram assim num largo conjunto de
missões de paz, concretizadas em diferentes partes do globo, cumprindo
várias operações no âmbito da ONU (Organização das Nações Unidas),
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da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em português,
ou NATO (North Atlantic Treaty Organization), em inglês, da UE (União
Europeia) e no domínio da cooperação -técnico -militar portuguesa
(CPTM). Foram assim mobilizadas para o efeito várias forças nacionais
destacadas (FND), a par de vários elementos nacionais destacados (END),
pelo que será justo falar aqui do marcante papel do também combatente
anónimo das Missões de Paz.
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PARTE I
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