o poder da relação · Sílvia Coutinho20
em tons de rosa, que não nos capacita com uma inteligência relacio-
nal, tão necessária e fulcral, para verdadeiramente amar e ser amado
de forma saudável, responsável e madura.
Muitos de nós, ao evocar a palavra «amor», prontamente a asso-
ciamos a um abraço caloroso e harmonioso, a um porto de abrigo,
a uma casa feliz e iluminada. Um lar decorado com entusiasmo, espe-
rança, alegria, paz, comunicação aberta e eficaz, autenticidade, respeito
e segurança. Contudo, na palavra «amor», nem sempre cabem ape-
nas emoções positivas e uma felicidade permanente. Também a casa
pode ser, para muitos, sinónimo de um lugar de desconforto, tristeza,
desrespeito, medo, adversidade, ameaça, insegurança, conflitos, ten-
são, abuso ou violência. Ou pelo menos, e com toda a certeza, a casa
do amor pode ser uma casa imperfeita, onde nem sempre espreitam
dias de sol. Convivemos diariamente com maiores ou menores adver-
sidades, desafios, dificuldades, porque amar alguém e sermos pessoas
quando amamos é uma das tarefas mais difíceis e complexas com que
nos podemos confrontar ao longo de toda a nossa existência.
É tremendamente desconfortável para nós encarar a perspec-
tiva de abuso, solidão, de uma relação disfuncional e não saudável.
Tendemos a colocar essa realidade sempre num lugar distante, como
algo que acontece aos outros e não a nós mesmos. Justificamos apres-
sadamente os comportamentos dos nossos companheiros, assim como
os nossos em relação a eles. Contudo, ficamos paralisados, angustia-
dos, perdidos, confusos ou reactivos e agressivos quando nos depa-
ramos com momentos desafiantes na relação. Afastamo -nos da
proximidade da presença do outro, fugimos, silenciamos, desistimos,
por vezes com demasiada facilidade, gritamos, protestamos, contro-
lamos quando não sabemos afinal mais o que fazer para lidar com as
situações, com as nossas claras diferenças e com a avalanche de emo-
ções desconfortáveis que sentimos. Somos seres humanos, e é claro
que a imperfeição e o erro fazem parte da nossa natureza. Na ver-
dade, por mais que nos custe aceitar, magoaremos sempre alguém na
nossa vida. Ou um outro alguém alguma vez nos magoará. Mas não
estarão todas estas nossas respostas, reacções e comportamentos tão