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Luís de Camões
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OS LUADAS
VISÃO HERÉTICA
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
Os Lusíadas e a Visão Herética

Luís de Camões e Jorge de Sena
Textos de Jorge de Sena © Herdeiros de Jorge de Sena
© Guerra e Paz, Editores, Lda., 
Reservados todos os direitos

Manuel S. Fonseca
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Ana Antunes

Helder Guégués
    
Ilídio J.B. Vasco
Impresso em Braga na Publito
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.ª : Maio de 
GUERRA E PAZ, EDITORES, LDA.
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500
anos
CAMÕES-SENA
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de Camões
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LUÍS DE CAMÕES
JORGE DE SENA
VISÃO
HERÉTICA
OS
LUADAS
E A
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7
ÍNDICE
Apresentação da edição, por Manuel S. Fonseca. . . . . . . . . . . . . . .9
Sobre os Dez Cantos de Os Lusíadas (1972),
por Jorge de Sena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
OS LUSÍADAS
Canto I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Canto II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Canto III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Canto IV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Canto V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Canto VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
Canto VII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
Canto VIII . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223
Canto IX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Canto X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277
Camões: Novas Observações acerca da Sua Epopeia e
do Seu Pensamento (1972), por Jorge de Sena. . . . . . . . . . . . . . 319
Nota bibliográfica de Jorge de Sena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349
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os lusíadas 9
APRESENTAÇÃO DA EDIÇÃO
Com a publicação desta edição de Os Lusíadas, acompanhada
por dois textos de Jorge de Sena, que oferecem ao leitor uma
Visão Herética daquele que Sena considerava ser o maior
poeta em português, a Guerra e Paz editores quer assinalar e
comemorar o 5.º centenário do Nascimento de Camões, nascimento que
terá ocorrido em dia incerto, entre 1524 e 1525.
Lidos por Jorge de Sena, dos dez cantos de Os Lusíadas rescende a
«audácia e a coerência profunda com que Camões juntou o maravilhoso pagão e
o maravilhoso cristão», bem como uma universalidade e modernidade que
arrasa muitos preconceitos contemporâneos, para os quais Jorge de Sena
chamou a atenção: «de hoje em dia, Os Lusíadas vieram a tornar-se numa
obra bastante suspeita, por exactamente as mesmas razões que deram a essa obra
fama internacional. A própria crítica portuguesa retrai-se perante ela, ou é-lhe
abertamente hostil, uma vez que o livro se tornou de tal modo num símbolo da
glória imperial portuguesa, e de tal maneira uma arma nacionalista para exci-
tar o orgulho português de um passado que, e com razão, muitos consideram que
ainda pesa demasiado na vida portuguesa. E, a estrangeiros, tão suspeitosos de
intenções e tendências colonialistas na cultura portuguesa, poderá parecer que
celebrar Os Lusíadas é de certa maneira uma capa para tais negros desígnios.»
Ciente desse quadro, Sena, dissecando o vocabulário de Os Lusíadas,
revelando a prodigiosa estatura intelectual de Luís de Camões, a diversi-
dade das suas influências religiosas e filosóficas, que combinam uma vasta
cultura humanística tintada de classicismo, de neo-platonismo, de judaísmo
e de cristianismo, eleva a epopeia camoniana do mero orgulho nacional ao
universal, e afirma que «nenhuma comemoração será digna se continuarmos a
limitar o escopo e o sentido da obra de Camões, recusando a tremenda e terrífica
mensagem que ele pôs nela. Os Lusíadas não são, na sua estrutura, só uma glo-
rificação dos feitos portugueses: são também uma trágica penitência pelas mal-
feitorias que os acompanharam.»
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luís de camões10
Durante mais de 30 anos, Jorge de Sena fundiu-se, crítica e criativa-
mente, com Luís de Camões e com Os Lusíadas, escrevendo milhares de
páginas de análise e de profunda e humaníssima emoção, projectando o
poeta além do mero academismo, além de visões nacionais ou patrióticas,
além até dos limites da língua portuguesa. Por isso, escolheram-se dois tex-
tos exemplares seus para enquadrar esta edição que resgata Os Lusíadas de
visões paroquiais e dos «imensos desertos que a má retórica ou a erudição acu-
mularam», perdendo o medo de penetrar nesse grande épico e escutar-lhe
o seu extraordinário pensamento.
Assim, esta edição abre com uma curta apresentação descritiva, que
Sena escreveu para a Enciclopédia Britânica, em 1972, e a que se deu o título
«Sobre os dez cantos de Os Lusíadas (1972)».
Segue-se, de Luís de Camões, Os Lusíadas.
A edição fecha com um portentoso texto de Jorge de Sena, escrito em
Fevereiro de 1972, para um simpósio camoniano na Universidade de Con-
necticut, por ocasião da comemoração do 4.º centenário de Os Lusíadas.
O texto, intitulado «Camões: novas observações acerca da sua epopeia e do
seu pensamento», parte da análise de palavras significativas no poema e,
nele, Sena cruza, com arrojo e brilho, as tradições cristãs, judaicas, pagãs e
platónicas que constituíam a tessitura intelectual de Camões, revelando
sentidos ocultos e desenvolvendo um aprofundamento «herético» de um
Camões política e religiosamente, ele mesmo, «herético».
Esta é, portanto, e pelas razões expostas, uma edição rara de Os Lusía-
das. Celebração de Luís de Camões, mas também celebração da perseve-
rante diligência crítica com que, por 30 anos, Jorge de Sena amorosamente
intelectualizou e conceptualizou as emoções poéticas que Os Lusíadas
encerram.
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os lusíadas 11
SOBRE OS DEZ CANTOS
DE OS LUSÍADAS *
Jorge de Sena
Os dez cantos de Os Lusíadas são em oitava rima (1102 estân-
cias). Após uma proposição introdutória, uma invocação às
ninfas do Tejo, e uma dedicatória ao rei D. Sebastião, a acção
começa, simultaneamente, aos níveis histórico e mitológico.
As naus do Gama estão já no Oceano Índico, navegando para a costa
Oriental da África, e os deuses do Olimpo juntam-se para discutir o des-
tino da expedição (favorecida por Vénus e atacada por Baco). Os dois pri-
meiros cantos, narrados pelo poeta, dizem respeito à viagem até Melinde
(parte do actual Quénia), onde os barcos são bem recebidos pelos chefes
locais, que perguntam ao Gama quem são os portugueses. Os dois cantos
seguintes são narrados pelo almirante e tratam da história portuguesa,
desde as suas lendárias origens (os Lusíadas ou Portugueses descendem de
Luso, um ascendente de Baco), até à partida da frota de Lisboa (1497); e
termina com a bela descrição da saída deles para o mar. No canto V, Gama
descreve ao rei a viagem de Lisboa a Melinde, trazendo a História e a Via-
gem juntas, no espaço e no tempo, ao momento em que o discurso termina.
Os deuses pagãos dos dois primeiros cantos estão todos ausentes da nar-
rativa do almirante. Com a partida de Melinde encerra-se o primeiro ciclo
do poema. No canto VI, o poeta aparece para descrever o cruzar do Oceano
Índico. Um segundo concílio dos deuses (os deuses marítimos para quem
Baco desta vez apela), reúne-se no começo deste segundo ciclo e é arras-
tado pela argumentação de Baco contra a presença dos portugueses no
Oriente. Com a ajuda de Vénus, os navegantes sobrevivem uma terrível
* Excerto do texto «Camões – Verbete Para Uma Enciclopédia» publicado na 15.ª edição da
Enciclopédia Britânica.
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luís de camões12
tempestade e atingem a costa da Índia. Os Cantos VII e VIII tratam dos
contactos de Gama com a Índia, onde Baco tenta, em vão, as últimas arti-
manhas. Atingido o objectivo, os descobridores regressam a Portugal. No
canto IX, Vénus premeia-os com a Ilha dos Amores, um paraíso terrestre,
onde os heróis mergulham em prazeres eróticos com as ninfas, chefiadas
por Téthys, a deusa dos mares, que se entrega ao Gama. No canto X, uma
ninfa e Téthys dizem-lhes em profecia alguns feitos dos portugueses no
Oriente (até cerca de 1560), e Téthys mostra-lhes a estrutura do Universo.
Os dois últimos cantos são uma portentosa epifania, na qual a História, a
Viagem e a Mitologia se fundem, numa gloriosa conclusão.
Ao longo de Os Lusíadas Camões desenvolve esplêndidos episódios
que animam a narrativa: o assassinato de Inês de Castro, que se torna um
símbolo da morte por amor (canto III); uma impressionante condenação
do espírito de aventura feita por um velho quando os barcos partem de
Portugal (o episódio do Velho do Restelo – canto IV); Adamastor, o gigante
de linhagem clássica que, no Cabo da Boa Esperança, diz ao Gama que
estará à espera para destruir a flotilha quando esta vier da Índia (canto V);
a história de cavalaria dos Doze de Inglaterra (canto VI), etc. Mas descri-
ções de tempestades, fenómenos naturais, batalhas, encontros sensuais,
também combinam com passos realísticos e vida experimentada para trans-
cender toda a orquestração das alusões clássicas inseridas na essência de
toda a estrutura, o que tudo contribuiu para o elevado tom e todavia fluente
estilo do poema.
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CANTO I
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os lusíadas 17
 
1
As armas1 e os barões2 assinalados
Que da Ocidental Praia Lusitana3
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda4 além da Taprobana5,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia6 a força humana7,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas8
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
3
Cessem do sábio Grego e do Troiano9
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano10
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito11 ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga12 canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
4
E vós, Tágides13 minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo14 ordene
Que não tenham enveja15 às de Hipocrene16.
. Latinismo com o sentido de
feitos militares.
. Ou seja, os homens corajosos
e ilustres. Camões usa também a
forma «varão».
. Ou seja, de Portugal. Note-se
a sinédoque.
. Em algumas edições, como
noutros passos, inda. «Ainda»
ocorre  vezes; «inda», .
. Identicada com a ilha de
Ceilão (actualmente, Sri Lanka).
. Em algumas edições,
sobretudo de antes de meados
do século , permitia.
. Note-se a hipérbole.
. Terras em que se não
professava a fé cristã.
. O sábio grego é Ulisses; o
troiano é Eneias, protagonistas,
respectivamente, da Odisseia e da
Eneida. O poeta usou aqui a
gura de estilo chamada
antonomásia.
. Alexandre Magno, rei da
Macedónia, e Trajano,
imperador romano, respectiva-
mente.
. «Peito», aqui, é sinónimo de
«coragem, valor».
. Note-se a metonímia.
. Ninfas do Tejo.
. Um dos nomes greco-roma-
nos de Apolo.
. Forma arcaica de «inveja», e
a única que aparece no poema.
. Uma das nascentes do
Hélicon, montanha sagrada nos
conns da Fócida e da Beócia.
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