os lusíadas 17
1
As armas1 e os barões2 assinalados
Que da Ocidental Praia Lusitana3
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda4 além da Taprobana5,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia6 a força humana7,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas8
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
3
Cessem do sábio Grego e do Troiano9
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano10
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito11 ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga12 canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
4
E vós, Tágides13 minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo14 ordene
Que não tenham enveja15 às de Hipocrene16.
. Latinismo com o sentido de
feitos militares.
. Ou seja, os homens corajosos
e ilustres. Camões usa também a
forma «varão».
. Ou seja, de Portugal. Note-se
a sinédoque.
. Em algumas edições, como
noutros passos, inda. «Ainda»
ocorre vezes; «inda», .
. Identicada com a ilha de
Ceilão (actualmente, Sri Lanka).
. Em algumas edições,
sobretudo de antes de meados
do século , permitia.
. Note-se a hipérbole.
. Terras em que se não
professava a fé cristã.
. O sábio grego é Ulisses; o
troiano é Eneias, protagonistas,
respectivamente, da Odisseia e da
Eneida. O poeta usou aqui a
gura de estilo chamada
antonomásia.
. Alexandre Magno, rei da
Macedónia, e Trajano,
imperador romano, respectiva-
mente.
. «Peito», aqui, é sinónimo de
«coragem, valor».
. Note-se a metonímia.
. Ninfas do Tejo.
. Um dos nomes greco-roma-
nos de Apolo.
. Forma arcaica de «inveja», e
a única que aparece no poema.
. Uma das nascentes do
Hélicon, montanha sagrada nos
conns da Fócida e da Beócia.
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