Joana Subtil 19
um percurso profissional invejável e não havia quem não
gostasse dela. Era pessoa para pôr um grupo de criançada
da praceta a apanhar lixo pela rua, e todos a adoravam.
Não precisava de muito para arranjar uma «tropa», orientá-
-la e pô -la a marchar que era um instantinho. Era dinâ-
mica dos pés à cabeça, alta, leve de alma e de espírito,
bonita na expressão, na bondade e na acção.
Só me lembro das coisas boas que fazia, entre elas
deixar notas de mil escudos à mão da neta para ela lhas
rapinar e gastar tudo a comprar bandas desenhadas da
Turma da Mónica, gomas, cromos e muita tralha das Spice
Girls. A casa da avó cheirava a mousse de chocolate… que
ainda hoje sei fazer de olhos fechados! Nas tardes quen-
tes, de Inverno ou Verão, partilhávamos momentos
Magnum de amêndoas, e colávamos chocolate ao céu da
boca para ir derretendo aos bocadinhos. Comíamos leite
condensado à colher (uma por dia… ou duas), ela dizia
que fazia milagres, a mim animava -me as papilas gusta-
tivas, milagres nem dei por eles!
A avó Faty era feliz e ensinava -nos a ser felizes com
ela, felizes com coisas simples e verdadeiras!
Era a pessoa proactiva na organização do Natal!
Eu sempre adorei o Natal. Os meus Natais eram passa-
dos em família, todos juntos, até com aqueles que não vía-
mos durante o ano inteiro. Mas estarmos junto no Natal
era sagrado! Era aquele dia do ano que tínhamos uns para
os outros! E o dia dava para tudo, para cantar, para dan-
çar, para comer, para cozinhar, até dava para discutir…
Pensando bem, talvez fosse por isso que nos enchíamos
uns dos outros para o resto do ano! Mas não faz mal, era
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